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sexta-feira, 17 de junho de 2011
Energia Limpa:Sorgo sacarino é alternativa para a produção de etanol
O alto preço atingido pelo etanol durante a entressafra da cana não é o único motivo de dor de cabeça para as usinas do setor nesse período. Outra preocupação é o prejuízo ocasionado pela imobilização de maquinário e mão de obra durante os meses em que não se produz a matéria-prima do biocombustível. Uma alternativa para a resolução dessas duas questões foi recentemente apresentada na Usina Cerradinho: o sorgo sacarino, uma variedade da planta utilizada na alimentação animal que tem capacidade de gerar açúcar fermentável para a produção de álcool e biomassa para energia elétrica.
A Cerradinho, de Catanduva (SP), cultivou 1,2 mil hectares com a novidade e produziu 1,4 milhão de litros de etanol no final de março. O negócio faz parte do projeto desenvolvido pela Monsanto/CanaVialis, que desde 2004 trabalha em pesquisas sobre o híbrido de sorgo sacarino. No momento, a empresa está testando suas sementes em mais 11 usinas, que juntas mantêm 3,1 mil hectares de plantio. A expectativa da Monsanto é atingir cerca de 35 mil hectares em 2012.
“É importante salientar que de maneira nenhuma o sorgo sacarino veio para substituir a cana, que é, de longe, a melhor espécie para produção de etanol. Nosso objetivo é garantir que as usinas tenham um ganho de 30 a 60 dias na produção do biocombustível”, garante Urubatan Klink, líder das pesquisas com sorgo da Monsanto. Isso acontece porque o sorgo tem um ciclo de 120 dias, podendo ser plantando entre novembro e outubro, início da entressafra de cana-de-açúcar, e colhido entre fevereiro e março. Especialistas indicam seu plantio em áreas de reforma da cana, justamente porque a capacidade de produção de etanol a partir do sorgo sacarino é inferior.
A experiência da Cerradinho, a primeira usina a produzir em escala industrial o etanol de sorgo, é encarada como um teste pelo diretor agrícola da empresa, Luis Antonio Paiva. “Não obtivemos os mesmos resultados que a Monsanto em laboratório, mas isso se deve, em parte, às condições climáticas: fazia tempo que não tínhamos um mês de março tão chuvoso”, disse o diretor, que obteve de 35 a 40 litros de etanol por tonelada de sorgo – foram 60 litros nos experimentos da multinacional. Ainda segundo Paiva, em novembro deste ano a usina irá novamente plantar o sorgo, com a expectativa de elevar a produtividade. Ele também afirmou que a planta oferece a possibilidade de uso do mesmo maquinário para a fabricação do etanol, apenas com pequenos ajustes, o que diminui o custo operacional da usina ao longo do ano.
Alfred Szwarc, representante da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), afirma que a entidade não influencia na decisão de que matéria-prima usar para a produção de açúcar nas empresas associadas. “Se me perguntarem o que eu acho que se deve plantar, cana ou sorgo, certamente eu escolheria a primeira. Tanto porque sua capacidade de produzir etanol é maior quanto porque as tecnologias envolvidas na cana já são dominadas.”
A Embrapa Milho e Sorgo, de Minas Gerais, trabalha com variedades do grão desde a década de 1980. Atualmente, mantém no mercado duas cultivares do sorgo sacarino, cujos testes em laboratório mostraram que é possível chegar a aproximadamente 4 mil litros de etanol por hectare. “O desafio agora é em relação às sementes, já que não existem máquinas capazes de colher em uma planta com três metros de altura, fazendo com que seja necessária a colheita manual. Vamos trabalhar na busca por melhores híbridos”, explicou Robert Schaffert, pesquisador da Embrapa. A entidade retomou o programa de melhoramento genético do sorgo sacarino e 25 variedades estão sendo avaliadas em todas as regiões brasileiras. A expectativa é que num prazo de dois ou três anos novos materiais estejam disponíveis no mercado.
Segundo a pesquisadora da Embrapa Clima Temperado Beatriz Emygdio, para o cultivo de sorgo como alternativa à cana deslanchar, faltam ainda o lançamento de novas cultivares (com maiores teores de açúcares fermentáveis presentes no caldo e com maior teor de caldo nos colmos) e o registro no Ministério da Cultura de novos defensivos para o controle de pragas na cultura. Mesmo assim, diz Beatriz, apostar no sorgo por ora pode ser a alternativa para garantir a produção e o abastecimento de etanol durante todo o ano.
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